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Pontes, não muros

08/07/2017 - Atualizado em 10/07/2017 | Por: Pascom

Ponte

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* Padre Sandro Rogério dos Santos

Os padres diocesanos de Presidente Prudente vivenciamos alguns dias de retiro espiritual esta semana. Fomos ‘dirigidos’ pelo arcebispo emérito de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, um octogenário cheio de vigor e de experiências (de vida e de igreja). O clima do retiro foi agradável, uma verdadeira oportunidade da Graça de Deus em nossas vidas. Aquilo a que chamamos de ‘kairós’ (tempo da Graça, não cronológico).

Poderia resgatar alguns tópicos das ‘palestras’ e ‘orações’ desses dias, mas foi das conversas individuais com o pregador que me vieram inspirações mais inquietantes. Formado noutro momento histórico, atuando em esferas mais plurais, Grings é um homem aberto, de diálogo, respeitoso do tempo e do momento na vida do outro (pessoa ou instituição).

Em momentos de polarização, também no interior da igreja, é bom verificar as motivações que nos movem. Em movimento, é bom verificar se avançamos ou recuamos nos pretendidos objetivos. Há movimentos neoconservadores em todas as esferas de organização social. A igreja não fica à margem. Também nesta surgem movimentos com pouco grau de tolerância para com o diferente. Já tratamos desse assunto algumas vezes neste espaço semanal.

O medo nos fecha e nos faz defender apenas partes, em detrimento do conjunto. Não raro, nos fazemos portadores únicos da verdade e andamos a procura de julgar todos os outros que não comungam com o que temos de mais precioso. Agimos como se apenas o nosso jeitão fosse o correto e se não houvesse qualquer lampejo de verdade, bondade e beleza na visão e ação alheias.

Dessas conversas, do cenário mundial ‘intra’ e ‘extra’ igreja, me recordei de uma história. Havia dois irmãos. Moravam em sítios vizinhos, separados por um riacho. Entraram em conflito. A primeira grande desavença numa vida inteira de trabalho conjunto. Tudo estava mudado. Daquele inicial e pequeno mal-entendido, surgiu uma insana troca de palavrões, seguida por semanas de total silêncio e indiferença.

Certo dia, bateram à porta do irmão mais velho:

— Estou procurando trabalho. Talvez você tenha algum serviço para mim, sugeriu o visitante.

— Sim, disse o sitiante. Eu tenho um serviço para você. Está vendo aquele sítio ali, além do riacho? É do meu irmão mais novo. Nós brigamos; já não o suporto mais. Quero você construa uma cerca bem alta com aquela madeira que está ali [esse pedido guarda semelhança com uma conversa de Donald Trump e seu inimigo imaginário querendo cercar os Estados Unidos contra os irmãos do restante do mundo].

— Entendo a situação, disse o carpinteiro. Onde está o restante dos materiais, martelo, serrote, pregos? O sitiante entregou o material ao carpinteiro e saiu para a cidade. Após um dia de trabalho árduo cortando, medindo, pregando… enfim, o serviço estava pronto. Ao chegar, o sitiante viu, incrédulo, em lugar de cerca, uma ponte. Embora fosse um belo trabalho, ficou furioso: — Você foi atrevido construindo essa ponte depois de tudo que lhe contei.

De repente, o mais velho, vê o irmão de braços abertos na outra extremidade da ponte e a caminhar em sua direção. Imóvel por um tempo, escutou seu irmão mais novo dizer-lhe: — Você realmente foi muito amigo construindo esta ponte mesmo depois do que eu lhe disse. E, num impulso, o irmão mais velho correu na direção do outro e abraçaram-se, chorando ali no meio da ponte. O carpinteiro que fez o trabalho, partiu.

— Espere, fique conosco! Tenho outros trabalhos para você – pediu o fazendeiro.

— Eu adoraria, mas tenho outras pontes a construir, respondeu o ‘carpinteiro’.

Há muros demais e pontes de menos. Faltam instrumentos de aproximação entre as pessoas. Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

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