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Meu quarto e o mundo

28/01/2017 - Atualizado em 23/03/2017 | Por: Pascom

Meu quarto e o mundo

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* Padre Sandro Rogério dos Santos

Dia desses ouvi e, oportunamente, citei numa homilia a frase-pensamento “o mundo está mais bagunçado que o meu quarto”. Olhei em derredor e constatei: as coisas não vão bem. Faz alguns anos que assistimos a atos terroristas, perseguições, violências – de toda a sorte e parte –, mortes, sempre seguidos de leituras as mais interessantes e com argumentos favoráveis para todos os lados. Com eloquência e quiçá virulência defende-se A, B, C até o Y e o Z dos acontecimentos, seguido com o “em pleno século XXI”.

Nalgum momento criou-se a sensação de que a história é linear e de que o progresso da humanidade não enfrentaria retrocessos. Ledo engano. O aspecto cíclico da história se mostra. Atitudes extremadas são tomadas. O pêndulo se move. A vida acontece. Alguns estarrecidos se perguntam: “como pode isso?”. Outros, paralisam-se. O medo vai-se disseminando. As sociedades – e as pessoas, obviamente – se fecham.

Poderíamos voltar a falar na ditadura do relativismo que agora parece ceder algum lugar para outras ditaduras, totalitarismos, visões mais estreitas da vida e dos relacionamentos interpessoais e internacionais. A maior democracia do mundo, por exemplo, elege um presidente cujos primeiros atos são de fechamento, de pensamento único, de visão unilateral. Donald Trump começa criando muros. Muros dividem, excluem, são hostis, ainda que para apenas “protegem as pessoas”.

Não sei até onde vai a brincadeira. Parece-me que causará alguns estragos. Sociedades divididas são o prato do dia. O famoso ‘nós’ contra ‘eles’ do Brasil faz escola no mundo. Os que pleiteavam arejamento de ideias fecharam-se nos seus esquemas, ‘iluminados’, que agora não produzem senão ojeriza, pilhéria, confrontos, juízos apressados… afinal, todos são medidos pela métrica que estabeleceram os ‘iluminados’, os ‘progressistas’, os únicos que têm – pelo menos assim acreditam-se – as respostas para os problemas do mundo.

No Brasil, de farta pauta de tragédias, sobejam esquemas fraudulentos no mundo político e dos negócios cujas relações são promíscuas. Tento imaginar como dorme um político ou empresário que se constrói sobre as bases carcomidas dos esquemas corruptos. Quando veem na TV e na imprensa de modo geral, esquemas sendo revelados, não teriam um mínimo de consciência bem formada que lhes impusessem limites para o crime?

Alguns teorizam as misérias das prisões como se os trágicos acontecimentos deste ano tivessem iniciado ontem. A demagogia do debate especialmente entre partidos de posição-oposição é letal para o país que se quer grande, soberano. Os que até ontem organizavam o estado, hoje, culpam os estragos que fizeram como se os executivos de plantão fossem os verdadeiros causadores. Não raro também assistimos a leituras apressadas que resolveriam todos os problemas.

Alguns querem mais prisões, outros querem portas abertas em todas as prisões. Alguns querem descriminalizar as drogas, outros querem maior presença do estado para combater o uso e o tráfico das drogas. Alguns anseiam um estado sem políticos, outros querem mais presença de políticos nas esferas decisórias da sociedade. Ocupamo-nos com o prefeito que se veste de gari e apaga grafites, ainda que esteja resolvendo as questões da saúde da população que espera meses para fazer exames e tratamento adequados.

Ocupamo-nos com o prefeito que entrou prometendo mundo e fundos – sem ter nem mundo nem fundos – e negligenciamos a história, a nossa história, eivada de bandidos travestidos de bem-intencionados homens públicos. Ocupamo-nos com o presidente dos EE.UU. e nos desocupamos da administração do sindicado, da comunidade, da prefeitura local, da creche, das secretarias municipais, do bem público que é a pracinha ou a escola perto de nossa casa. Bem… vou arrumar o meu quarto.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida.

Pax!!!

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