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Filho amado

21/01/2017 - Atualizado em 23/03/2017 | Por: Pascom

Meu Filho Amado

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* Padre Sandro Rogério dos Santos

Tentando se esconder do inimigo, um jovem entrou no vilarejo. As pessoas foram gentis com ele, oferecendo-lhe lugar para ficar. Quando os soldados procurando o fugitivo perguntaram onde ele se escondia, todos ficaram apavorados. Ameaçaram incendiar o vilarejo e matar todos os que ali residiam, a menos que o jovem fosse entregue antes do amanhecer. As pessoas foram se consultar com o rabino. Dividido entre entregar o jovem ao inimigo e a morte do seu povo, o rabino retirou-se aos seus aposentos e leu a sua bíblia, esperando encontrar uma resposta antes do amanhecer. De manhã cedo, os seus olhos depararam com estas palavras: “é melhor que um homem morra do que todo um povo se perca”. O rabino fechou a bíblia, chamou os soldados e contou-lhes onde se escondia o jovem. Depois que levaram o fugitivo para ser morto, houve uma festa no vilarejo, porque o rabino havia salvado a vida do povo. Mas o rabino não celebrou. Abalado por uma profunda tristeza, permaneceu em seus aposentos. Naquela noite, um anjo veio a ele e perguntou: “o que você fez?” Ele respondeu: “entreguei o fugitivo ao inimigo”. Então, o anjo disse: “mas você não sabe que entregou o Messias?” “Como poderia saber?”, o rabino replicou ansiosamente. Então, o anjo afirmou: “se, em vez de ler a sua bíblia, você tivesse visitado esse jovem só uma vez e olhado em seus olhos, teria sabido”.

Conhecer-se a si mesmo parece-me o desafio constante e para toda a travessia da existência humana. Saber-se quem é, agir como tal e acolher os tempos e os momentos como ocasiões de fortalecimento e de questionamento da identidade pessoal. Na celebração do sacramento do batismo é perguntado aos pais qual nome escolheram para o filho. O nome é valioso e valoroso; é distintivo daquilo que somos; revela a singularidade da nossa existência, explicita a missão que carregamos pela vida. Além do nome próprio, assimilamos o sobrenome que nos vincula a uma porção de outras pessoas, constituindo um núcleo familiar que de algum modo assume conjuntamente uma tarefa também. Na mesma celebração batismal, é recordado o batismo de Jesus nas águas do Rio Jordão. Naquela ocasião, uma voz do céu confirmou “eis o meu filho amado; n’Ele pus o meu agrado, toda a minha afeição” (cf. Mt 3,16-17). Aí está a nossa realidade mais límpida e profunda: eu sou “amado de Deus”; você é “amado de Deus”; nós somos amados de Deus!

Não sei quais processos psicológicos atuam e nos sabotam a existência, mas vira-e-mexe nos sentimos piores e acreditamos nas palavras mal-ditas dos outros. Acabamos confundindo o que somos com aquilo que fazemos ou com aquilo que os outros dizem sobre nós. Deixamos de atuar conforme esse amor original que nos formou e acompanha para atuar segundo processos que esvaziam e angustiam. “A maior armadilha da nossa vida não é o sucesso, tampouco a popularidade ou o poder, mas a auto-rejeição, duvidar de quem realmente somos… quando chegamos ao ponto de acreditar nas vozes que nos chamam de imprestáveis e detestáveis, então o sucesso, a popularidade e o poder são facilmente percebidos como soluções atraentes” (Henri Nouwen). Ouvir no interior que sou “amado de Deus” é uma força transformadora e libertadora. Deixar-me conduzir pelo Espírito me coloca na trilha da existência com sentido. Deveríamos ouvir somente aqueles que nos amam. Afinal, o que nos salva não é o que andam dizendo de nós, mas aquilo que Deus sabe de nós, filhos amados. Creia. Tome posse dessa realidade e viva como filho amado.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 


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