* Padre Sandro Rogério dos Santos
» Padre Zezinho, scj, escreveu um opúsculo chamado “Da família sitiada à família situada – pais e filhos em busca de um conceito”. A seguir a provocação inicial do seu texto. Há famílias sitiadas. Invadidas pelo desamor, pela indiferença, por brigas, pelo descaso, pela mídia e por maus vizinhos; ameaçadas por ladrões, abandonadas por governos, prejudicadas pela falta de estudos, humilhadas pelo desemprego, seduzidas por ideologias, religiões e seitas à procura de novos membros, sentem-se sitiadas, encurraladas e sem saída.
Há famílias bem-planejadas, bem-estruturadas e bem-amadas em que pai e mãe dialogam e se querem; filhos podem confiar nos pais, e religiões proselitistas com garantia de novos recados especiais de Deus não entram, porque ali já se vive uma fé serena e bem-fundada. Nessas famílias, há respeito e diálogo. Enfrentam as situações adversas com a certeza que nasce do amor. Também ali se tem medo do ladrão e dos maus. Mas há o cuidado permanente pela casa erguida sobre a rocha. São famílias situadas. Conhecem o seu lugar na sociedade e sabem acolher as boas interferências e banir as más influências. Caberia, por fim, a pergunta se sua família é sitiada ou situada.
» Flávio Moreira da Costa traduziu e adaptou o famoso mito grego “O Rei Midas”. O bebê dormia no berço. Uma fileira de formigas se aproximou. Elas carregavam grãos de trigo nas costas, e com eles marcharam até os lábios do bebê. Era um velho presságio grego: as pequenas formigas indicavam que o bebê seria um homem rico. O bebê cresceu e se tornou o rei Midas. Enquanto isso, Dionísio, o deus do vinho e das vinhas, tinha um filho chamado Sileno. Sileno, que muito raramente estava sóbrio, costumava se esquecer de onde estava, quando se embriagava. Ele era a grande preocupação do pai Dionísio.
Ao viajar pelo reino de Midas, como de Costume, Sileno ficou bêbado. Não caminhava: cambaleava pela região. E para variar, não sabia onde estava. E assim ele se aproximou de uma região onde havia um rio com um terrível rodamoinho. Um rodamoinho que já matara muitos homens – aliás, sóbrios. Sileno caiu nas águas. Não conseguia nadar, nem se debater direito. Teria morrido não fosse a intervenção de Midas. Dionísio ficou agradecido. Ofereceu ao rei qualquer coisa que ele quisesse. Midas então pediu que o toque de suas mãos transformasse tudo em ouro.
— Tem certeza do teu pedido? – perguntou Dionísio. Midas insistiu, e a partir daí tudo o que o rei tocava se transformava em ouro. No princípio, Midas achou tudo aquilo maravilhoso. Conseguia transformar pedras, flores, árvores e outros objetos quaisquer em ouro, ouro sólido. Mas ficou com fome. E resolveu sentar-se para a primeira refeição depois do seu encontro com Dionísio. Foi servido, mas ao tocar a refeição, ela transformou-se em ouro. Sua filha veio abraçá-lo. Ela também se transformou em ouro.
Midas ficou arrasado, e com muito medo de morrer de fome –Dionísio sabia que isso ia acontecer. Midas suplicou a Dionísio. O deus ouviu suas súplicas desesperadas, esperando que o rei aprendesse de vez a lição, que a cobiça não era tudo na vida: era muito perigosa. E retirou o toque de ouro. E foi assim que o rei Midas sobreviveu.
» A vida virtuosa continua luzeiro para o mundo. Viver rodeado de pessoas virtuosas enobrece, questiona, edifica e transforma, ainda mais em tempos sombrios. É salutar habituar-se às boas coisas. Sobriedade para sobreviver. Inteligência para buscar o essencial. Amor para cultivar tudo quanto seja necessário à travessia da existência. Perdão para a falta cometida.
Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!