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Mentalidade abortista

14/12/2016 - Atualizado em 14/12/2016 | Por: Pascom

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O tema “aborto” me lembra da história da ‘cobra mal matada’. De vez em quando, assusta; não para de dar sinais e de exigir atenção. No Brasil, assistimos frequentemente a embates (sem debates!) sobre a interrupção da gravidez. Tudo parece motivo justo para tirar da gaveta dos iluminados e progressistas o seu ‘projeto herodiano’ –referência à cena bíblica na qual o rei Herodes determina a matança de inocentes (cf. Mt 2,16; Ex 1,8–2,10).

Matéria da BBC Brasil (8/3/2015) afirma que em 2013, “1.567 mulheres morreram no Brasil por complicações ao dar à luz, durante ou após a gestação ou causadas por sua interrupção”, ainda, “as principais causas de mortalidade materna são hemorragia, hipertensão, infecção e aborto.” Daí, se o total de óbitos de mulheres em idade fértil no país é de 65 mil, e se em 2013, causas maternas levaram 1.567 mulheres a óbito, como dizer que 250 mil morrem em decorrência de aborto clandestino?

Em geral, a discussão sobre o aborto está reduzida às batalhas jurídicas ou à descrição de fatos sociológicos (como acima citados), descurando a reflexão ética que é a base primeira de qualquer bioética (a ética da vida). A filósofa francesa Monique Canto-Sperber afirma que “a reflexão ética pode desempenhar um papel considerável na justificação de escolhas e decisões, com a condição de que não seja confundida com o que ela não é, o exame sociológico e a regulamentação jurídica”.

José Roque Junges, doutor e professor de ética e bioética, recorda que “o aborto é um fenômeno universal tão antigo quanto a civilização e em relação ao qual há diferentes posicionamentos dependendo da diversidade de culturas e de sociedades”. “É sempre um mal a ser evitado”, porque “elimina ao menos a potencialidade de uma vida humana personalizada”. Atos abortivos sempre aconteceram, mas nunca foram considerados algo desejável; apenas, uma situação-limite. Assim, se ele é um mal, não pode ser exigido como um direito.

A mentalidade hodierna nos faz pensar o aborto algo normal e corriqueiro, proposto como solução para a questão da natalidade, da pobreza, da promoção e da independência da mulher. Ter uma lei favorável ou contrária ao aborto não resolve a questão. “É uma falácia reduzir o problema a esse antagonismo”, conclui José Roque. A resposta ética, em detrimento da jurídica e da sociológica, privilegia a relação que se inicia na gestação. Esse novo paradigma relacional exigirá a mudança da compreensão da sociabilidade humana e a definição do estatuto do embrião.

Estando no terreno da ética relacional, é preciso procurar compreender o direito das partes, mulher e embrião. “A partir dos avanços da genética, a individualidade biológica é definida pela individualidade do genoma”. Não estamos diante de posicionamento religioso ou da sacralidade da vida. O cientista francês Jacques Testard, pioneiro na pesquisa da reprodução humana, afirmou em entrevista: “Eu sou ateu e não creio que o embrião seja sagrado, mas para mim ele merece respeito e não pode ser considerado como um material à imagem de um embrião de rato” (Revista La Vie, n.3072, 15/7/2004).

Concordo com a conclusão do doutor Junges: “o modo coerente de enfrentar eticamente o problema do aborto engloba várias tarefas em favor da vida humana: tarefas de escuta e apoio às mulheres em situação de abortar; tarefas educativas para superar atitudes de irresponsabilidade no uso da sexualidade e despertar maior sensibilidade pelo respeito à vida humana; tarefas de militância sociopolítica com a criação de leis que ataquem as causas do aborto e salvaguardem a vida humana em toda a sua amplitude.”

Pela vida, sempre! Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

Padre Sandro Rogério dos Santos
Pároco


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