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Tolerância

14/12/2016 - Atualizado em 14/12/2016 | Por: Pascom

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A pedido da UNESCO, 1995 foi proclamado pelo Conselho Econômico e Social da ONU como Ano das Nações Unidas para a Tolerância. Pretendia-se contribuir para a paz, o respeito dos direitos humanos e a eliminação de toda forma de discriminação. Tolerância, no especial sentido de ‘negociação’, era, assim, o novo nome da paz: um valor a conquistar, uma modalidade de ação guiada pela análise razoável e realista de si mesmo e do outro (sujeito da relação), um caminho em direção à solidariedade, uma maneira de administração dos conflitos, em busca de uma sociedade justa e fraterna.

Neste contexto, o então presidente da UNESCO, Frederico Mayor Zaragoza, declarou por ocasião daquele ano da Tolerância: “a humanidade deve poder consagrar-se à paz, salvaguardá-la, restabelecê-la e reedificá-la, mediante a criação de espaços de diálogo, de concertação e de reconciliação. A violência nunca mais! (…) Isto exige princípios democráticos – sempre de novo a serem consolidados – o que significa participação no debate, expressão dos ideais de cada um, com vigor e perseverança. Se nos propomos corrigir a assimetria do mundo, se queremos tornar menos desigual a repartição dos recursos, não podemos falhar na luta contra a ignorância, a pobreza e a humilhação. Pelo contrário, é necessário reforçá-la sem descanso, para fazer oposição aos interesses hostis e para corrigir a miopia, sempre má conselheira.”

Tolerância, segundo os dicionários, é: 1) a capacidade de resistir a situações desfavoráveis; 2) a atitude que consiste em mostrar-se razoável, compreensivo para com as ideias, crenças religiosas, sistemas políticos diferentes ou contrários aos próprios (do latim ‘tolerantia’, derivado de ‘tolerare’, “suportar”). O primeiro sentido, ‘suportar’, é passivo; o segundo, ‘administrar conflitos’, é um valor positivo. Há três maneiras de lidar com um conflito: a) ataque (comportamento agressivo); b) retirada (comportamento passivo); c) negociação (comportamento assertivo – afirmação de um valor).

A história humana é caracterizada por uma interminável sucessão de conflitos. Desde a mais remota antiguidade os seres humanos se esforçam por administrar de maneira pacífica a sua convivência (excluindo, marginalizando). Até mesmo a religião (nenhuma específica) contribuiu para ‘sacralizar’ conflitos e para justificar divisões. Nosso vocabulário revela pensamentos e preconceitos aninhados na mente das pessoas: estrangeiro, diferente, bárbaro, forasteiro, vândalo, judeu… têm evidente conotação pejorativa.

A convicção da igualdade de todos os seres humanos é uma conquista muito recente do mundo ocidental. E nesta natural igualdade dos seres humanos fundamenta-se a tolerância. Na Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776), lemos: “(…) todos os homens foram criados iguais; que o Criador os investiu de certos direitos inalienáveis; que entre estes direitos estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade…”.

Da Declaração dos Direitos do homem e do cidadão (1789): “1. Os homens nascem e vivem livres e iguais nos direitos… 4. A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique os semelhantes. 10. Ninguém deve ser incomodado em virtude das suas opiniões, mesmo religiosas… desde que estas não causem perturbação da ordem pública estabelecida pela lei (…)”.

O caminho da tolerância é um trabalhoso processo histórico e um desafio quotidiano nas esferas pessoal, micro e macrossocial. Manifestações de intolerância dão-se: no nível individual, pela rigidez; no nível microssocial, pela impaciência, exclusão e desprezo; no nível macrossocial, pelo desencontro (e rejeição) ideológico, nacionalismo, integrismo, racismo…

A verdade não torna ninguém intolerante, pois a ela é fascinante. O dogmatismo, ao contrário, sim. Aquele que julga possuir a verdade falsifica o mistério, tornando-se automaticamente intolerante, cego pelo orgulho. Mais que leis, amar, respeitar e acolher o outro, o diverso, é o caminho para a paz.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

Padre Sandro Rogério dos Santos
Pároco


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